16/12/2011

A "LEI SECA" E O "GENE EGOISTA"


Anacleto pode ser considerado uma versão piorada do Eremildo, o idiota, de Elio Gaspari. Ele acreditava que o abaixo-assinado acima (postado pelo RIONOSSO/AAMUR, que não tem nada a ver com o Eremildo!) iria “bombar”, ou seja, seria amplamente divulgado pela imprensa, entupiria as caixas de e-mails. “poluiria” a rotina dos facebooks e, assim sendo, teria mais de 10.000 assinaturas! Afinal, Muriaé tem mais de 86 mil eleitores! E eleitores são pessoas adultas, responsáveis e conscientes de seus deveres de cidadãos!
Acreditava, desse modo, que os Poderes Executivo, Legislativo e o Ministério Público iriam tomar – urgentemente, pois estamos num mês de muitas comemorações – providências para aplicar a “Lei Seca” em Muriaé e, conseqüentemente, evitar novas mortes que, obviamente, deverão ocorrer, se tudo “continuar com antes no feudo dos Abrantes”!
O Anacleto acredita em um Poder Superior (Uma Força Cósmica, conhecida popularmente como Deus!), mas o irmão dele, que é médico, não acredita!
— Você tem que parar de acreditar em Papai Noel. Vá estudar biologia. Vou lhe dar um livro do Dawkins. Já lhe disse, tudo se explica através do “gene egoísta”[1] – afirma o Doutor.
Tenho profunda admiração por meu irmão – especialmente por sua inteligência. Assim, quando vejo acontecimentos como este do abaixo-assinado da “Lei Seca”, começo a pensar seriamente numa atuação subversiva do “gene egoísta” e na possibilidade de ter que redirecionar meus estudos, ou seja, trocar o Novo Testamento e autores esotéricos (Osho, krishnamurti, Sai Baba, Ramatis, etc.) pelos livros de Richard Dawkins.
Creio que a vida seria mais fácil se eu passasse a acreditar que tudo se acaba com a morte. Adeus Parábola dos Talentos (Mateus 25,14)! Adeus Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/01)! Adeus a esta mania “idiota” de acreditar – como afirma a Física Quântica – que tudo no Universo está interligado e que, como afirmou Jesus, “o Pai e eu somos um” (João 10,30). Que bom seria poder jogar Hebreus (8,10) no lixo, ou seja, nada de “porei minhas leis na mente deles e as imprimirei em seus corações” e, portanto, nada de “consciência”! E viva a “Lei de Gérson”[2], aliás, como está acontecendo!
Mas por que meu irmão e outras pessoas inteligentes insistem em pesquisar textos científicos para se convencerem de que nada existe além da matéria? Eu pesquiso sobre espiritualidade, mas não com o objetivo de me convencer sobre a existência de Deus. Parece que foi Einstein quem disse: “Eu não acredito, eu sei que Deus existe”. Portanto, busco nos textos uma forma de construir uma escada que me leve até Ele, conforme recomendou Osho.
No fundo de minha alma, estou cansado de saber que a “porta é estreita” e o único caminho – o único caminho, repito, pois somente a caridade não é suficiente, conforme descobriu Leon Tolstói[3] depois de morto – está em ir me transformando. Ir me transformando até me tornar perfeito como é perfeito o nosso Pai que está no céu (Mateus 5,48). Nesse sentido, Jesus não poderia ter sido mais claro: “Eu lhes garanto: se vocês não se converterem, e não se tornarem COMO crianças, vocês NUNCA entrarão no Reino do Céu” (Mateus 18,3).




[1] O Gene Egoísta (1976) é o primeiro livro de Richard Dawkins, onde ele apresenta uma teoria que procura explicar a evolução das espécies na perspectiva do gene e não do organismo, ou da espécie.
Segundo ele, o organismo é apenas uma "máquina de sobrevivência" do gene, cujo objetivo é a sua auto-replicação e onde a espécie onde ele existe é a "máquina" mais adequada a essa perpetuação. Analisando o comportamento de algumas espécies animais, Dawkins explica que o altruísmo que se observa em muitas espécies não é contraditório com o egoísmo do gene, mas contribui para a sua sobrevivência.
Segundo alguns, a teoria lançada por Dawkins pode ser interpretada como uma afirmação do liberalismo (do egoísmo como característica fundamental dos seres vivos, onde o altruísmo, quando existe, é apenas uma forma de perpetuar o indivíduo).
Neste livro, Dawkins reformula igualmente o conceito de meme, ou seja, o equivalente cultural do gene, a unidade básica da memória ou do conhecimento, que o ser humano transfere conscientemente para os seus descendentes.

[2] Na cultura brasileira, a Lei de Gérson é um princípio em que determinada pessoa age de forma a obter vantagem em tudo que faz, no sentido negativo de se aproveitar de todas as situações em benefício próprio, sem se importar com questões éticas ou morais. A "Lei de Gérson" acabou sendo usada para exprimir traços bastante característicos e pouco lisonjeiros do caráter midiático nacional, associados à disseminação da corrupção e ao desrespeito a regras de convívio para a obtenção de vantagens pessoais.

[3] Faço agora uma correção, pois servir a humanidade não é o único sentido da vida, conquanto seja importante. (...) Deus nos concedeu a vida na Terra como uma escola para nosso aprendizado, com vistas à evolução.
TOLSTÓI, Leon. Leon Tolstoi por ele mesmo. Psicografia de Célia Xavier de Camargo. São Paulo: Petit, 2006.