18/05/2011

A BUSCA

Meu outlook estava com problemas. Isso é bom ou ruim? Depende, como ensina a historinha chinesa. Baixei todos os e-mails de uma só vez; isso foi bom, pois me permitiu tomar conhecimento, simultaneamente, das mensagens de dois amigos.

Mensagens da vida real escritas por pessoas que entendem de vida. Além de outras leituras, não pude deixar de ver nelas a descrição de um quadro nada promissor da vida do homem moderno. Isso, também, foi bom, porque me fez refletir sobre a minha própria vida.

Reconheci, novamente, que o Reino de Deus, isto é, a verdadeira felicidade está dentro de mim. Apesar de não estar conseguindo acessá-la plenamente, pelo menos, ao contrário da maioria das pessoas, estou certo de que o caminho não é a posse de bens materiais, poder e relacionamentos. Nem se anestesiar com trabalho, comida, bebida, sexo, compras e passeios. Tudo é fuga, uma maneira de evitarmos encarar a busca de algo muito mais profundo, profundamente interior. Uma empreitada que, também estou certo, não pode ser vencida apenas por meio de um culto religioso semanal ou de orações recitadas de forma mecanizada.

Hoje, às seis horas, acordei o meu filho. Lembrei-me de quando meu pai me acordava e a meu irmão. Um aparte: nossa mente é uma doideira – pode ser o nosso céu ou o nosso inferno, como ensina o Mestre Osho. Agora, por exemplo, ao escrever “a meu irmão”, vi que se trata de um objeto direto preposicionado. Será que saber usar um objeto direto preposicionado é realmente importante na vida? Pelo menos, me ajuda a interpretar os ensinamentos de Jesus, penso eu. Em “amar ao próximo”, por exemplo, “ao próximo” é objeto direto preposicionado de “amar”. Mas não é decisivo para aumentar o saldo da conta bancária, pensará a maioria das pessoas que não está nem um pouco preocupada em compreender as coisas de Deus.

Acordar meu filho às seis horas levou-me aos tempos de minhas férias escolares na década de 50. Férias? Íamos para o sítio de meu pai... colher café! Mês de julho, frio e sereno; seis horas da manhã, pés descalços e calça curta. Férias escolares? Hoje, algumas pessoas me perguntam por que eu e meu irmão, desde criança, gostamos de estudar. Será porque estudar era as nossas verdadeiras férias? Como saber?

O quadro descrito não tem por escopo uma antítese promocional – seja lá o que isso quer dizer –, pois conheço inúmeras pessoas que também trabalharam muito na infância. O objetivo é chamar a atenção para a complexidade de nossa mente e de nossa vida. E especialmente para nossos questionamentos na velhice. Por que sinto saudades daqueles tempos? Por que, aos 63 anos, eu acho que era mais feliz naquela época de dificuldades do que sou hoje nesta época de facilidades?

Sei que existem milhares de respostas para os questionamentos dessa espécie, assim como sei que a verdadeira resposta está dentro de cada um. Para mim, está provado – se não cientificamente provado, fortemente sinalizado espiritualmente – que o verdadeiro caminho é nos transformamos, nos tornarmos como crianças, conforme ensinou Jesus. O problema, contudo, está no “como” nos transformarmos. Talvez precisemos limpar nossa mente, esvaziá-la do lixo acumulado ao longo dos anos a fim de que o Espírito de Deus que habita em nós possa atingir Sua plenitude.

Mas como renascer, tornar-nos como criança, se, em grande parte, estamos nos deixando conduzir pelas baboseiras da vida, ao invés de conduzir a nossa própria vida? Que diabo de insegurança é essa que nos leva a correr doidamente no “piloto automático”, sempre procurando acumular mais? Será que novamente Osho tem razão, isto é, será que precisamos juntar tanta riqueza por fora para compensar a pobreza e o vazio que existem em nosso interior? Ou temos medo de buscar a verdadeira felicidade, o Reino de Deus que se encontra dentro de cada um?

Alguém pode sugerir que o “como” está na prática dos ensinamentos de Cristo. Concordo plenamente, mas penso que a prática dos ensinamentos de Cristo não se resume às práticas de hoje em dia. A porta é mais estreita, a tarefa não é tão fácil, e isso pode ser facilmente demonstrado numa mesa de amigos, a qualquer momento, em nosso dia-a-dia. Leia, por exemplo, o que Jesus disse em Mateus 12,36-7: 
Eu digo a vocês: no dia do julgamento, todos devem prestar contas de cada palavra inútil que tiverem falado. Porque você será justificado por suas próprias palavras, e será condenado por suas próprias palavras.

E observe as reações das pessoas. O assunto morre, o ti-ti-ti desaparece, e uma estranha interrogação paira no ar. A reflexão dura poucos minutos; parece que nossa mente é programada para enaltecer o ego e a vaidade, e para esquecer os ensinamentos de Cristo, isto é, as coisas de Deus!