18/05/2011

A BÍBILIA TEM RAZÃO

Refiro-me mais especificamente ao Novo Testamento. Depois que passei a entender alguma coisa da Bíblia, sempre comprovo a validade da maioria – eu disse maioria – de seus ensinamentos, e penso:
quão importante seria o seu debate nas escolas e universidades, se feito, com mente aberta, de maneira inteligente, imparcial, racional e científica – e não com base em sectarismo, misticismo e fé cega radicais.A morte da menina Isabella comprova, por exemplo, que:

Os homens desprezaram o conhecimento de Deus; por isso, Deus os abandonou ao sabor de uma MENTE INCAPAZ DE JULGAR. Desse modo, eles fazem o que não deveriam fazer...


Está claro que o assassinato de Isabella foi praticado por quem não acredita em Deus ou em qualquer Poder Superior. Ao longo da vida, também não aprendeu nada sobre as preocupações de Cristo com as crianças:
Quem escandalizar um desses pequeninos que acreditam em mim, melhor seria para ele pendurar uma pedra de moinho no pescoço, e ser jogado no fundo do mar.
Gostaria de salientar dois pontos:
  1. não foi Deus quem nos abandonou; fomos nós quem nos abandonamos; foi o nosso ego, a nossa personalidade, sempre crescente, que abandonou a nossa Essência, o nosso Deus Interior;
  2. Jesus sugere a “pena de morte” para quem simplesmente ESCANDALIZAR uma criança. Certamente, existe muita gente neste mundo que está fazendo muito mais do que simplesmente ESCANDALIZAR uma criança!
Em razão das palavras de Jesus e de São Paulo, minha preocupação, há longo tempo, é mais abrangente, porque, se adotarmos como referência “assassinar crianças” ou mesmo “escandalizar um desses pequeninos”, o ato pode ser uma exceção. Entretanto, se adotarmos como referência “a mentira e outros comportamentos antiéticos”, estou certo de que a exceção se torna regra. Neste caso, como canta Chico Buarque: “[...] não fica um, meu irmão”.


Onde estamos falhando? No meu entender, a falha está em continuarmos priorizando – acima de tudo, inclusive acima de Deus – as coisas deste mundo. Mas por que priorizamos as coisas deste mundo? Porque desconhecemos quem verdadeiramente somos e as “coisas elementares das palavras de Deus”. Ainda somos crianças, e não temos experiência para distinguir o certo do errado. Nossos conhecimentos sobre as coisas de Deus estão estagnados no catecismo da infância, e, portanto, acham-se incompatíveis com a lógica e a razão da estrutura mental do mundo de hoje.


Creio que existe um número significativo de pessoas que deixaram de acreditar em céu, inferno e purgatório. Isso é bom ou é ruim? O assassinato de Isabella talvez tenha sido praticado por uma pessoa que deixou de acreditar no inferno, conforme lhe foi ensinado na infância. Ela deixou de acreditar no inferno e, infelizmente, não colocou outra crença no lugar.


Por que ela não colocou outra crença no lugar? Porque hoje ela é adulta e, se for medianamente alfabetizada, sua estrutura mental não lhe permite simplesmente aceitar algo que lhe seja ensinado ou imposto por quem quer que seja. Não é mais possível fazê-la acreditar em Papai Noel. Ela é autônoma – ou seja, uma norma de comportamento para ser adotada por ela tem que passar pelo crivo lógico e racional do livre-arbítrio de sua autonomia. Assim, é necessário um profundo trabalho de auto-convencimento, que implica na mudança de crenças e valores introjetados ao longo de toda uma vida.


Eis o grande desafio, pois essa mudança exige, não apenas uma tremenda motivação intrínseca, mas também um trabalho sério, constante e disciplinado. E as inúmeras atividades que são impostas ao homem por esta “máquina de fazer doido” que ele mesmo criou não lhe dão tempo para nada, muito menos para pensar seriamente nas coisas de Deus.


Ouso dizer que mudar se trata de um projeto de vida, porque não se trata de mudar a personalidade externa, mas sim de mudar nossa Essência Interior. Não são mudanças que podem ser realizadas apenas com uma ida semanal à igreja ou com a leitura de uma passagem na Bíblia feita, esporadicamente, quase sempre, em busca de auxílio, e, raramente, como um trabalho sério e sistemático de estudo e pesquisa. Se alguém está pensando que estou falando besteiras sobre a dificuldade de se mudarem crenças e valores, examine-se honestamente a si próprio e adicionalmente dê uma lida em Romanos 7,14 para ver o corajoso testemunho de São Paulo, dentre os quais se destaca: “Não faço o bem que quero, e sim o mal que não quero”.


Resumindo: a pessoa que matou Isabella deixou de acreditar no inferno e não colocou em seu lugar nenhuma crença interior, psicológica ou espiritual, que pudesse nortear sua conduta moral ou ética. Desse modo, consciente ou inconscientemente, os seus comportamentos passaram a subordinar-se exclusivamente à lei dos homens. E a prática da lei dos homens, como infelizmente o assassino comprovava no dia-a-dia, está mais para as várias brechas da rede de proteção colocada na janela do apartamento de Isabella do que para o sólido e intransponível bloqueio do muro de concreto da penitenciária.
(04/2008)