11/11/2010

A CIGARRA E A FORMIGA

Como diz meu filho, o André: “Pai, me chama de burro de outro jeito”. De acordo com O Globo (09.12.08), as “senhoras” que transcrevem os discursos do presidente Lula desconheciam a expressão “Meu, sifu”, por Isso escreveram “inaudível”.
E se o presidente Lula tivesse dito que vem aí um “tsunami” financeiro, e as “senhoras” entendessem a palavra “tsunami” como “inaudível”? Nós “sifu”? Noutra página, o governador de Roraima diz: “É fácil comandar índio. Se ele tiver febre, você dá um AAS ou uma Cibalena, resolveu o problema”. Será que Sua Excelência já leu o artigo 5º da Constituição Federal? Será que Sua Excelência pensaria o mesmo com relação à sua excelentíssima mãe? Será que Sua Excelência vai à igreja aos domingos e, principalmente, sabe o que significa “amar ao próximo como a si mesmo”?


Agora vem uma mentira histórica sobre o Ai-5: “Nós éramos líderes e não sabíamos das coisas que aconteciam das torturas. Não sabia nada. Era uma coisa entre os militares. Os civis eram quase fantoches”, disse Clóvis Stenzel, líder do governo Medici. Sem falar da mentira, aqui cabe perguntar: naquela época, os civis eram quase fantoches, com relação aos militares; e hoje a população é o quê com relação aos políticos e governantes? Segundo o Aurélio, fantoche é “pessoa incapaz de ação própria, que fala ou procede orientada ou comandada por outrem”.
Ontem, dizia a um amigo que algumas pessoas me acham maluco por também ser contra gastar dinheiro com pesquisas de células-tronco, enquanto centenas de pessoas enfrentam filas em hospitais e morrem sem a mínima assistência médica ou por falta dos AAS e Cibalena mencionadas. Ou enquanto, conforme está na coluna do Ancelmo Gois, nossos infectologistas deixarem morrer pessoas, como o sul-africano, por não saberem diagnosticar uma febre maculosa transmitida pelo carrapato.
Alguns amigos dizem que não gosto do presidente Lula. Isso não é verdade, até afirmo que Lula é muito inteligente e tem muita sorte, pois esperou para se eleger presidente quando, por exemplo, os preços estavam estabilizados pelo Plano Real, e os gastos públicos sob controle da Lei de Responsabilidade Fiscal. Além de a economia mundial estar navegando em céus de brigadeiro.
Mas “não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe” – nada é eternamente perfeito, nem mesmo para o Lula. Agora com a crise financeira norte-americana, Lula terá oportunidade de comprovar que “foi preciso um presidente analfabeto para consertar o Brasil”, conforme me dizem alguns amigos.
“Ao contrário de 2003” – escreveu Merval Pereira – “quando Lula tinha tempo pela frente [...], hoje ele já não tem nem tempo nem o convencimento de que precisa tomar medidas drásticas e urgentes para evitar uma crise futura mais séria ainda”. [...] Prefere tentar preservar sua altíssima popularidade criando um ambiente fantasioso em torno do seu governo, a enfrentar a dura realidade que tem pela frente nos próximos anos. [...] Enquanto pode, Lula vai valorizando os números passados como se representassem o presente, tentando ganhar tempo na memória do eleitor”.
Lula permanece na expectativa de que a sua estrela continue brilhando. “[...] Está dobrando a aposta na possibilidade de o futuro presidente dos Estados Unidos Barack Obama vencer rapidamente a crise econômica e, por isso já anuncia que em 2010 tudo terá passado”.
Prosseguindo, Merval conclui: “Em vez de tentar assumir o lugar da iniciativa privada para aquecer a economia, o governo brasileiro deveria estar empenhado em conter despesas públicas – de preferência buscando o déficit nominal zero – para poder atingir um índice de investimento entre 25% e 30% do PIB, e reduzir a carga tributária, além de retomar negociações para reformas tributária e previdenciária profundas”.
Meu caro Merval, nossa única esperança é o Super-Obama. Basta um mínimo de reflexão para ver que o Lula não tem as mínimas condições de adotar as medidas que você está sugerindo.
Primeiro, porque o ego dele é maior que o Brasil, e ele não irá colocar em risco uma popularidade de 70%. Os brasileiros já o endeusaram – lembra-se de que o povo não conseguiu aliar o nome dele ao esquema do mensalão? Falta pouco para o povo acreditar que Lula é um novo messias e que veio para resolver todos os problemas do mundo.
Temos de reconhecer, meu amigo, que, como na fábula da cigarra e da formiga, Lula apenas cantou os “parabéns pra você” e fatiou o bolo-família feito com ingredientes de administrações pretéritas. E viajou, porque ninguém é de ferro!
Na economia, o Banco Central simplesmente monitorou a inflação com ajustes periódicos na taxa de juros. Falou-se muito de PAC isso e PAC aquilo, mas, no frigir dos ovos, descobre-se, por exemplo – lamentavelmente com o caos de Santa –, Catarina, que apenas 8% da verba destinada à prevenção de calamidades foi efetivamente aplicada. Em 2010, provavelmente, o PAC se tornará PAC para eleger Dilma Rousseff.
Por questão de justiça, vamos reconhecer que a culpa também é nossa, pois não planejamos nossas cidades, conforme nos faculta a Lei Federal nº 10.257, de 10.07.01, denominada Estatuto da Cidade. Sem planejar as cidades não se podem planejar os Estados; e, sem planejar os Estados, Lula não pode planejar o país. Como o Lula iria saber que deveria destinar recursos para prevenir calamidades em Santa Catarina se, conforme penso, os Planos Diretores das cidades envolvidas nada previam a respeito?
O segundo ponto é que “o mundo foi rodando nas patas do meu cavalo” e, como está no Eclesiastes, “debaixo do céu há momento para tudo, e tempo certo para cada coisa: Tempo para nascer e tempo para morrer”. Lula perdeu o timing, o bonde da história, e não tem retorno. Agora, somente lhe resta alertar o companheiro Obama – conforme declarou dias atrás – para a importância de implantar, no início do mandato, medidas estruturais antipáticas – as quais ele próprio não teve coragem de implementar.
Nem Lula nem Obama, penso que a única saída está numa mudança de mentalidade. Uma mentalidade inteligente e verdadeiramente religiosa que nos faça entender, principalmente, que os recursos naturais do planeta são limitados, que estamos todos no mesmo barco, e que não existirá paraíso para ninguém enquanto houver uma ovelha desgarrada, pois “O Pai e eu somos um”, conforme disse Jesus. Você pode não acreditar em Jesus, mas deve, pelo menos, estar acreditando que os Estados Unidos e o mundo “somos um”.
(12/2008)